MULHERES QUEBRAM BARREIRAS COMO COMPOSITORAS DE SAMBA-ENREDO

Nós do MCT queremos ver as mulheres em todos os lugares na música. É por isso que selecionamos esta matéria do Globo sobre a presença das mulheres nas composições dos enredos das escolas de samba.

Não é de agora em que as mulheres participam das composições dos enredos das escolas de samba. Dona Ivone Lara é a mais conhecida, por ter sido a primeira mulher a vencer um samba-enredo em uma grande escola, em 1965. Entretanto, em 2020, apenas duas mulheres assinam as composições.

Segundo o portal, o samba-enredo da Estação Primeira de Mangueira para o desfile de 2020 é composto por Manuela Trindade Oiticica, a Manu da Cuíca. Ela falou sobre as barreiras que as compositoras encontram nas escolas de samba. Só para se ter uma ideia, dos 40 integrantes da ala dos compositores da Magueira, apenas duas são mulheres.

“É um ambiente marcadamente masculino. As mulheres nas escolas de samba participam, historicamente, de outros segmentos. E não é que não queiram, mas porque há predomínio masculino mesmo. Não faltam, por exemplo, sambas que exaltam belezas femininas com algumas demarcações de inferioridade que chegam a ser ridículas. Eu jamais faria um samba assim. É sempre desconfortável. Não faltam mulheres para compor, mas a gente tem que mostrar o tempo inteiro que está fazendo samba”, lamentou Manu ao portal.

O autor do livro “Sambas de enredo: história e arte”, Luiz Antônio Simas, falou sobre a predominância masculina nos sambas:  “Sem dúvida nenhuma é um universo muito masculino. A ala de compositores era o núcleo de formação das escolas. As mais tradicionais foram formadas por compositores como Paulo da Portela (Portela), Cartola (Mangueira) Mano Elói e Seu Molequinho (Império Serrano). Era basicamente um meio masculino, havia muito preconceito com a presença de mulher. Acho que, em certo sentido, ainda é visto como um meio muito marcado pela preponderância masculina”, explicou, um dos autores do livro

Em 2020, será a primeira vez em que a Mocidade Independente de Padre Miguel terá na avenida um samba-enredo escrito por uma mulher. Para homenagear Elza Soares, Sandra de Sá!

“Foi a primeira vez que disputei. Sou fã da Elza. Ela é a cultura brasileira. Com seu canto, suas atitudes, sua cor. É ser humano da melhor qualidade”, disse Sandra de Sá.

Esperamos que a presença feminina nas composições, não só de samba-enredo, aumentem. Por isso, apoiamos o Women in Music, que desde de 1985, trabalha para dar suporte às mulheres do mercado musical. Saiba mais sobre a ONG e saiba como participar!

Créditos:”Dona Zezé e Manu da Cuíca são algumas das poucas mulheres que brilham entre compositores Foto: Arte sobre foto de Leo Martins”

DIVAS POP LATINAS ESTÃO POR TODA PARTE, MENOS NAS COMPOSIÇÕES

A Billboard publicou um artigo sobre a queda do número de compositoras de músicas latinas. Apesar dos esforços feitos por gravadoras e serviços de streaming para aumentar este índice, em 2019 o número de compositoras nas paradas voltou a cair.

Segundo o portal, entre 2015 e 2016, a presença de mulheres compositoras na parada da Billboard “Hot Latin Songs” era de apenas 8%. A partir de 2017, diante deste cenário, várias iniciativas começaram a impulsionar a presença de mulheres compositoras, até que em 2018 o índice aumentou para 15%, com 36 músicas na parada escritas por mulheres.

Apesar disso, em 2019 o número músicas compostas por mulheres voltou a cair, com apenas quatro músicas no Top 10. Dessas quatro, as duas que chegaram a primeira colocação, “Chantaje” de Shakira (com Maluma) e “Dame Tu Cosita”, de Pitbull, El Chombo e Karol G, apresentavam homens.

Para o portal, a maior questão é que o raggaeton e a música urbana são os subgêneros mais dominantes nas paradas latinas, e historicamente favorecem os cantores do sexo masculino. Becky G, Karol G e Natti Natasha, que passaram do pop para a música urbana, são exceções por escreverem a maioria de suas próprias músicas.

A maioria das canções do estilo de música urbana são escritas sob uma perspectiva masculina porque todos os produtores, engenheiros, DJs e compositores latinos são homens. “A falta de mulheres no espaço criativo [é preocupante]”, diz Nir Seroussi, vice-presidente executivo da Interscope Geffen A&M. “Não há uma produtora feminina que eu conheça.”, afirmou.

A fim de mudar essa dinâmica, algumas iniciativas já estão em andamento. Como os esforços das gravadoras como a Sony Latin, em promover mais artistas femininas. Além disso, premiações como o “Premios lo Nuestro”, da Univision e o “Latin American Music Awards”, da Telemundo, pela primeira vez tiveram todas as apresentadoras femininas.

Aqui no Brasil, a matéria citou ainda a iniciativa Casa de Música – Escuta as Minas, um estúdio de gravação em São Paulo. “O objetivo era criar um espaço e ambiente seguros em um estúdio liderado por mulheres”, diz Mia Nygren, diretora administrativa do Spotify para a América Latina. A Casa de Música faz parte da iniciativa Listen to Women que o Spotify estreou no Brasil em 2018.

Mesmo com a baixa presença das mulheres nas composições, a compositora Erika Ender, que co-escreveu o megahit “Despacito”, está animada ao ver mais colegas em sessões de redação. Mas, diz ela, “minha percepção pessoal é que ainda não está sendo refletida nas tabelas. Talvez seja uma questão de tempo”.

Foto: Ilustração de Max-o-matic

COMO ELIANE DIAS DRIBLOU O MACHISMO NO COMANDO DOS RACIONAIS MC’S

Eliane Dias é muito mais do que a “mulher do Mano Brown”. A advogada, empresária e ativista passou por muita coisa e precisou, principalmente, driblar o machismo para gerenciar um dos maiores grupos de rap brasileiros: o Racionais MC’s. O portal R7 contou um pouco de sua trajetória.

A empresária iniciou sua a jornada no mercado da música com o Racionais MC’s em 2004, quando propôs cuidar como advogada a parte jurídica da banda. Ela contou que os integrantes não gostaram da ideia: “Eles falaram para mim que não queriam mulher no grupo, e eu também sou do tipo que, se não me quiser, tem que quem queira. Só falo uma vez”, disse Eliane.

“Você fala muita coisa”, “você é muito mandona” foram alguns dos comentários que Eliane teve que ouvir na época. Somente em 2013, ao fundar a produtora Boogie Naipe, ao lado de Mano Brown, a empresária começou a trabalhar com o grupo.

Durante seu caminho na produtora, Eliane trabalhou e estudou muito para entender o mercado musical. Tanto que sua saúde chegou a ser prejudicada e acabou engordando 19 kg.

“Nos primeiros anos eu dormia apenas quatro horas por noite, porque ficava pensando o tempo todo, buscando soluções e tentando entender o mercado”, contou.

Ao longo do tempo, lidar com o grupo que revolucionou a cena no país foi uma “roda gigante”, como a própria definiu: “Tem momentos em que eles estão super pró-feministas e de repente falam que mulher não vai, que mulher não entra”, revelou. “Aí, quando eu vou pro ‘enfrentamento’, vou pra cima, eles falam que eu atropelo, que não respeito”.

A empresária também revelou que não tinha dimensão do tamanho do grupo: “Acompanhava de pertinho, mas não tinha noção da relevância e da importância deles”, disse.

Ao se tornar coordenadora do SOS Racismo, em 2015, Eliane percebeu o valor que Dandara, companheira de Zumbi dos Palmares, tem para as mulheres.

“As mulheres não têm noção do seu potencial gigantesco e os homens aproveitam dessa falta de autoconfiança para invisibilizar tudo o que podem”, finalizou a empresária.

Em 2017, Eliane foi eleita  pelo Women’s Music Event Award, “única premiação para mulheres na música do país”, como a “melhor empreendedora musical do ano”.

Foto: Lucas Tomaz Neves

Está no ar mais um episódio do FF Podcast. Desta vez o tema é: #6 – POP LACRAÇÃO com a participação de Pablo Bispo. OUÇA AQUI!