COMO ELIANE DIAS DRIBLOU O MACHISMO NO COMANDO DOS RACIONAIS MC’S

Eliane Dias é muito mais do que a “mulher do Mano Brown”. A advogada, empresária e ativista passou por muita coisa e precisou, principalmente, driblar o machismo para gerenciar um dos maiores grupos de rap brasileiros: o Racionais MC’s. O portal R7 contou um pouco de sua trajetória.

A empresária iniciou sua a jornada no mercado da música com o Racionais MC’s em 2004, quando propôs cuidar como advogada a parte jurídica da banda. Ela contou que os integrantes não gostaram da ideia: “Eles falaram para mim que não queriam mulher no grupo, e eu também sou do tipo que, se não me quiser, tem que quem queira. Só falo uma vez”, disse Eliane.

“Você fala muita coisa”, “você é muito mandona” foram alguns dos comentários que Eliane teve que ouvir na época. Somente em 2013, ao fundar a produtora Boogie Naipe, ao lado de Mano Brown, a empresária começou a trabalhar com o grupo.

Durante seu caminho na produtora, Eliane trabalhou e estudou muito para entender o mercado musical. Tanto que sua saúde chegou a ser prejudicada e acabou engordando 19 kg.

“Nos primeiros anos eu dormia apenas quatro horas por noite, porque ficava pensando o tempo todo, buscando soluções e tentando entender o mercado”, contou.

Ao longo do tempo, lidar com o grupo que revolucionou a cena no país foi uma “roda gigante”, como a própria definiu: “Tem momentos em que eles estão super pró-feministas e de repente falam que mulher não vai, que mulher não entra”, revelou. “Aí, quando eu vou pro ‘enfrentamento’, vou pra cima, eles falam que eu atropelo, que não respeito”.

A empresária também revelou que não tinha dimensão do tamanho do grupo: “Acompanhava de pertinho, mas não tinha noção da relevância e da importância deles”, disse.

Ao se tornar coordenadora do SOS Racismo, em 2015, Eliane percebeu o valor que Dandara, companheira de Zumbi dos Palmares, tem para as mulheres.

“As mulheres não têm noção do seu potencial gigantesco e os homens aproveitam dessa falta de autoconfiança para invisibilizar tudo o que podem”, finalizou a empresária.

Em 2017, Eliane foi eleita  pelo Women’s Music Event Award, “única premiação para mulheres na música do país”, como a “melhor empreendedora musical do ano”.

Foto: Lucas Tomaz Neves

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Women’s Music Event quer ser um festival de música com line up 100% feminino

De 22 a 23 de março acontece em São Paulo o Women’s Music Event, uma conferência dedicada a mostrar o papel das mulheres dentro da indústria musical. Segundo o portal Meio & Mensagem, nesse ano o evento traz 17 shows, 15 painéis, oito workshops, shows nas ruas e vários projetos.

Um deles é o Pitch dos Estados, no qual  produtoras culturais de seis estados brasileiros realizam uma imersão pela cena musical de suas regiões. Além disso, haverá o painel Discografia WME. Com o apoio do Spotify, as artistas Karol Conka, Julia Branco, Luiza Lian e Maria Rita Stumpf contarão como foram os processos de produção, parcerias e ações de marketing de seus recentes álbuns.

Duranteo , há também a premiação Women’s Music Event Awards para homenagear as mulheres da indústria.

A jornalista Claudia Assef e a produtora Monique Dardenne, fundadoras do Women’s Music Event, contaram ao portal que estão planejando a realização de um festival com line up formado 100% por mulheres. Por enquanto, a dupla está em fase de busca por parceiros comerciais. O festival está previsto para 2020.

“Ainda estamos no planejamento. É nossa ambição e maior desafio. Ainda não existe um festival no mundo com grande relevância com esse recorte”, contou Monique.

Em 2018, haverá uma grande novidade para as profissionais da indústria. Um novo aplicativo será lançado para que mulheres possam cadastrar seus currículos, facilitando o contato com empresas.

“O WME é nosso sonho de mudança e estamos sentindo essas mudanças. Mas o projeto não é uma coisa só minha e da Cláudia. Há um interesse maior das mulheres de se profissionalizar e se sentir à vontade nos ambientes. Temos feito campanhas para festivais colocarem mulheres na parte técnica. A conferência já está sendo considerada um evento de negócios. Você não vai para lá só para falar com a mulher do lado, mas para se profissionalizar”, contou Monique em entrevista para o Meio & Mensagem.

 

 

Foto: Claudia Assef e Monique Dardenne (Crédito: Divulgação/WME)