Por que artistas estão vendendo seus catálogos musicais?

Recentemente, vimos uma onda de artistas vendendo seus direitos autorais para grandes fundos de investimentos, como Hipgnosis Songs Fund e Primary Wave. A Rolling Stone publicou uma matéria para explicar sobre os motivos que levaram a alta da aquisição de catálogos musicais.

Para a Hipgnosis Songs Fund e a Primary Wave, adquirir os direitos autorais de artistas como Fleetwood Mac, Neil Young, Shakira, John Lennon e Dire Straits é um negócio bem rentável, uma vez que elas poderão ter retorno de diferentes formas como os royalties, licenciamento, acordos de marca e outras fontes de receita.

Além disso, os ativos musicais são um grande investimento, pois estão mais estáveis e muitas vezes mais valorizados em comparação a outros mercados. Como disse Merck Mercuriadis, fundador e CEO da Hipgnosis: “Se Donald Trump fez algo maluco, o preço do ouro e do petróleo são afetados, ao passo que as canções não … [as canções] estão sempre sendo consumidas”.

Há ainda outro fator para a valorização dos catálogos: as grandes gravadoras, não vão deixar startups como a Hipgnosis pegarem seus ativos mais valiosos sem pelo menos lutar. É por isso que a Universal Music adquiriu o catálogo de músicas de Bob Dylan, avaliado em US$400 milhões.

Por que os artistas e compositores estão vendendo seus catálogos?

A Covid-19 é um dos principais fatores que pode influenciar na decisão de alguns artistas a vender seus catálogos. Afinal de contas, muitas vezes suas rendas estão ligadas às turnês, e sem turnê não há renda. Entretanto, há outros motivos que podem pesar ainda mais para alguns. É o que veremos abaixo:

  1. Benefícios fiscais

Os benefícios fiscais estão cada vez mais se esgotando nos Estados Unidos. Segundo o portal, os planos fiscais de Joe Biden – presidente recém-eleito nos EUA – incluem a alteração do imposto sobre ganhos de capital para que fiquem alinhados ao imposto de renda, incluindo qualquer venda de ativos acima de US$1 milhão. Isso significa que neste caso, a taxa de imposto sobre a venda de um ativo lucrativo aumentará 20% para cerca de 37%.

Seguindo o exemplo de Bob Dylan, que vendeu seu catálogo por US$ 400 milhões: com 20% de imposto, ele deve pagar US$80 milhões ao governo; a 37%, ele deverá pagar $65 milhões a mais em impostos.

  1. Circunstâncias pessoais

Artistas mais idosos e no fim de carreira já podem estar pensando na divisão de seus bens a seus herdeiros, e por isso a ideia da venda catálogos pode ser prática. No caso de Dylan, será mais fácil dividir os $400 milhões adquiridos pela venda de seu catálogo do que uma vida inteira de direitos autorais.

Há ainda artistas que podem usar a venda de seus direitos para pagar dívidas e resolver problemas pessoais financeiros. É caso de Shakira, recentemente a cantora vem enfrentando uma acusação pelo governo da Espanha de uma dívida de US$16 milhões em impostos atrasados. Não se pode dizer se este caso a influenciou em sua decisão, mas vale o lembrete de que as estrelas também têm dores de cabeça com familiares e finanças.

  1. Lendo o mercado – e seus próprios legados

É preciso colocar na balança tudo o que pode acontecer futuramente no mercado musical, que sempre foi de altos e baixos. Em primeiro lugar, o crescimento da receita de streaming de música está desacelerando nos principais mercados (“maduros”) como os EUA e o Reino Unido, e não se sabe ao certo sobre sua estabilidade.

Além disso, nunca se sabe quando uma “nova ameaça tecnológica” pode deixar todos cegos nos próximos 20 anos, destruindo o valor das obras dos artistas da mesma forma que o Napster ou Limewire fizeram no passado.

O que está valendo é que empresas como a Hipgnosis estão pagando muito pelos lucros dos royalties previstos. Quanto maior o artista, maior o múltiplo: acredita-se que a Universal pagou a Bob Dylan um múltiplo de mais de 25 vezes o que seu catálogo acumula a cada ano. Tirar esse dinheiro adiantado pode deixar as incertezas menos desagradáveis para os artistas.

 

Imagem: (reprodução) Robb Cohen/Invision/AP Images; Chris Pizzello/AP Images; Greg Allen/Invision/AP Images

Em acordo milionário, empresa de investimentos adquire metade dos direitos de discografia de Neil Young

A empresa de investimentos, Hipgnosis Songs, anunciou hoje (06) que adquiriu metade dos direitos autorais do catálogo de Neil Young, em um contrato avaliado em US$150 milhões.

Segundo o Music Business Worldwide, com a aquisição a empresa passa a ter direitos sobre a metade dos rendimentos das 1.180 músicas do artista.

O catálogo de Neil Young é considerado um dos mais valiosos da história da música. No total, o artista e compositor lançou quase 50 álbuns de estúdio e mais de 20 álbuns ao vivo. Sete de seus álbuns foram listados na parada dos 500 melhores álbuns de todos os tempos da Rolling Stone.

Ao longo de sua longa carreira de sete décadas, Young recebeu 27 indicações ao Grammy, 28 ao Juno Award e foi indicado ao Rock and Roll Hall of Fame duas vezes – tanto como artista solo quanto como membro do Buffalo Springfield.

Em um comunicado, o fundador da Hipgnosis, Merck Mercuriadis, disse que sempre foi fã de Young e que acaba de realizar um sonho: “As canções de Neil Young são parte de quem eu sou, elas são de muitas maneiras responsáveis ​​por quem eu me tornei e certamente estão em meu DNA”.

“Construí a Hipgnosis para ser uma empresa da qual Neil gostaria de fazer parte. Temos integridade, ethos e paixões comuns”, continuou o executivo.

Antes de lançar a Hipgnosis na Bolsa de Valores de Londres em 2018, Mercuriadis trabalhou como manager de nomes como Elton John, Beyoncé e Morrissey – e continua gerenciando a carreira artística de Nile Rodgers, co-fundador da empresa.

A Hipgnosis tem ganhado cada vez mais destaque no mercado musical. Além de ter investido mais de US$1,5 bilhão em catálogos de música nos últimos dois anos, começou 2021 adquirindo catálogos de edição de Lindsey Buckingham do Fleetwood Mac e do produtor Jimmy Iovine, responsável pela produção musical de filmes como ‘8 Mile’, estrelado por Eminem e ‘Get Rich or Die Tryin’, de 50 Cent.

A compra de catálogos musicais vem crescendo em escala mundial, principalmente durante a pandemia do novo coronavírus. Vale lembrar que recentemente, a Universal Music adquiriu o catálogo de Bob Dylan estimado em US$400 milhões.

 

Foto: Ben Houdijk / Shutterstock

Universal Music anuncia aquisição de todo o catálogo de Bob Dylan

Nesta segunda-feira, a Universal Music anunciou que adquiriu todo o catálogo de composições de Bob Dylan. O que foi considerado como um dos maiores acordos de direitos autorais para um compositor.

Segundo o The New York Times, o acordo foi fechado diretamente com Dylan, que há muito tempo controla grande parte de seus próprios direitos. Com inclusão de todo o material do cantor e compositor, especula-se que o acordo foi fechado na faixa de US$300 milhões por mais de 600 títulos.

“Não é nenhum segredo que a arte de compor é a chave fundamental para toda boa música, nem é um segredo que Bob é um dos maiores praticantes dessa arte”, disse Lucian Grainge, executivo-chefe da Universal Music em um comunicado.

O catálogo de Dylan é de grande interesse no mercado musical, uma vez que suas canções remodelaram o folk, o rock e o pop. Ele recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 2016 “por ter criado novas expressões poéticas dentro da grande tradição da canção americana”. Além disso, suas canções foram gravadas por outros artistas em mais de 6 mil vezes, com cada uso gerando royalties.

Outro ponto a se notar, é que Dylan sempre realizou acordos de licenciamento envolvendo suas canções em comerciais de empresas como Apple, Cadillac, Pepsi e IBM. O que valorizou ainda mais o catálogo.

Anteriormente, grande parte do império empresarial de Dylan era administrado por meio da Bob Dylan Music Company (em outras partes do mundo, seu catálogo foi administrado pela Sony/ATV, que continuará com os controles até o vencimento de seu contrato em alguns anos).

O acordo não inclui nenhuma das canções inéditas de Dylan. Também não cobre nenhum trabalho posterior, deixando em aberto a possibilidade de que ele possa escolher outra editora para administrar esse material.

Como a Universal agora controla seu trabalho, Dylan não terá mais poder de veto sobre como suas músicas serão usadas. Ainda assim, a Universal insistiu que seria de bom gosto no uso de sua obra.

Jody Gerson, o executivo-chefe da divisão de edição da Universal, disse: “Para representar o corpo da obra de um dos maiores compositores de todos os tempos – cuja importância cultural não pode ser exagerada – é um privilégio e uma responsabilidade”. Dylan não fez comentários sobre o acordo.

Vale notar, que este é o acordo mais recente e de maior visibilidade para catálogos de música, já que vários artistas venderam suas canções, principalmente durante a pandemia.

Entre os artistas que venderam suas canções, está Stevie Nicks, que na semana passada vendeu uma participação majoritária em seu catálogo por cerca de US$80 milhões para a Primary Wave Music, uma editora independente e empresa de marketing.

Em contrapartida, a Hipgnosis Songs Fund anunciou recentemente que em apenas dois anos e meio gastou cerca de US$670 milhões, de março a setembro, adquirindo os direitos de mais de 44.000 músicas de Blondie, Rick James, Barry Manilow, Chrissie Hynde dos Pretenders entre outros.

 

Imagem: Chris Pizzello/Associated Press