Saída do sertanejo em paradas musicais é questão de recuo estratégico, diz empresário

Recentemente, publicamos aqui que o sertanejo pela primeira vez deixou o ranking das três mais tocadas no YouTube Charts Brasil. Barões da Pisadinha, Zé Vaqueiro e MC Don Juan se tornaram os artistas mais ouvidos no país.

O Youtube Charts Brasil tem sido importante para mensurar o mercado musical nacional, e desde sua criação o sertanejo sempre esteve na liderança com artistas como Marília Mendonça, Gusttavo Lima, Zé Neto & Cristiano e Henrique & Juliano.

O que poderia explicar a saída dos sertanejos do ranking nacional, principalmente durante a pandemia do coronavírus? Wander Oliveira, o empresário e dono do maior escritório de música sertaneja no Brasil, a Workshow, falou ao G1 sobre estratégias e posicionamento de mercado, adotados pelos artistas do gênero neste momento.

Em entrevista, o empresário explicou que os shows presenciais são cruciais para alavancar o gênero, e neste momento os artistas estão impedidos de se apresentar. O recuo estratégico nos lançamentos foi necessário:

“Depois que começou a pandemia, nós do sertanejo não lançamos mais nada, nada novo. Por posicionamento, a gente achou melhor ficar mais tranquilo. O próprio artista achou melhor dar um tempo e não lançar nada. A gente tem uma cultura de lançar muita coisa ao vivo, e não tivemos essa oportunidade”, explicou o empresário ao portal.

Apesar do recuo, Oliveira disse que está otimista e nos próximos meses os artistas devem voltar com os lançamentos: “O sertanejo faz muito show, e a gente está sem o show. Então por opção a gente parou de lançar. Vamos começar a lançar novamente agora. No mês de junho a gente começa a retomar o mercado. Em torno de uns três, quatro meses, o mercado volta à normalidade, porque com os novos lançamentos, a coisa volta ao que era antes”, disse Oliveira.

Alguns especialistas apontam a falta de renovação e inovação do estilo como outro motivo para a queda no sertanejo. Sobre isso, o empresário disse não considerar essa hipótese:

“Na verdade, o sertanejo se renova a cada dia. Não é uma falta de renovação. Se você for ver, não tem nenhum ritmo que tem tanto artista novo que acontece sempre. Até a própria renovação de ritmo mesmo. Não acredito que seja isso. Pra mim, na qualidade de pessoa que trabalha com sertanejo há anos, é somente a questão de lançamentos”.

“Se você pegar nas pesquisas, as pessoas estão muito mais em casa. E quando ela está em casa, ela consome muito mais a música e isso acaba passando mais rápido também. Com o não lançamento, as pessoas começam a enjoar mesmo. Vai ouvindo, ouvindo, dali a pouco ela nem aguenta mais ouvir aquela música”, concluiu o empresário.

 

Foto: Wander Oliveira entre artistas da Workshow  – Reprodução/Instagram

Top 3 do Youtube não tem Sertanejo pela primeira vez

Pela primeira vez, YouTube Charts não registrou sertanejo em seu top 3 das mais ouvidas, mostrando que o forró e funk ganharam força no Brasil. Conforme relatado pelo G1 na última semana, os artistas mais ouvidos do ranking do Youtube Music Brasil foram Barões da Pisadinha, Zé Vaqueiro e MC Don Juan. Desde a criação do ranking em 2018, artistas sertanejos estavam sempre nas primeiras posições.

De fato, cada artista mereceu o destaque no ranking. Os Barões da Pisadinha vêm mantendo o primeiro lugar há pelo menos seis meses, seguido do forró romântico de Zé Vaqueiro. Já na terceira posição, Don Juan se tornou um dos principais nomes do funk ao realizar parcerias com Alok e GBR.

Além do Youtube Music, foi possível perceber que o forró esteve bem colocado em outras plataformas de streaming como o Spotify.

Vale notar que antes da alta dos Barões da Pisadinha no fim de 2020, o ranking era sempre liderado por Marília Mendonça, Gusttavo Lima, Zé Neto & Cristiano e Henrique & Juliano; e mesmo com o destaque no BBB, ‘Batom de Cereja’, da dupla sertaneja Israel e Rodolffo, chegou até a terceira posição e saiu logo após duas semanas.

 

 

Barões da Pisadinha são os artistas mais ouvidos no ranking semanal do YouTube no Brasil, seguidos por Zé Vaqueiro e MC Don Juan — Foto: Divulgação

Graças a Tiririca, cresce o número de jingles com versões não autorizadas em campanhas eleitorais

Como já era previsto, o favorecimento do humorista Tiririca na disputa judicial com o cantor Roberto Carlos a respeito de uma paródia não autorizada, está dando brecha para muitas outras versões. Ainda mais em época de eleições.

O G1 publicou uma notícia falando sobre o caso, e o aumento recorde no número de jingles de músicas não autorizadas em campanhas eleitorais. Os hits do momento são os favoritos, como canções do Barões da Pisadinha e até uma paródia da cantora Tones and I.

De acordo com o portal, produtores revelaram que  vereadores de cidades pequenas são os que mais procuram as paródias. Sobretudo devido ao baixo custo. Uma faixa “reciclada” é mais barata que uma original.

“Um ‘original do zero’ a gente entrega por R$ 1 mil. Para reproduzir uma música nossa que já tenha modelo, a gente cobra R$ 500. E ‘paródia’ agora está por R$ 149. Lembrando que é uma promoção”, contou o produtor Yago Silva ao portal.

Os produtores contaram que disparado os hits mais procurados pelos candidatos são os da banda de forró Barões da Pisadinha. Procurado pelo G1, o empresário Ordiley Katter Valcari, disse que já viu vários jingles não autorizados e que vai tomar “providências jurídicas cabíveis”.

“Infelizmente pouquíssimos candidatos nos procuraram para regularizar a situação. Acho que o Tribunal Regional Eleitoral de cada região deve exigir na prestação de conta de cada candidato a autorização do artista para o uso da sua obra”, afirmou.

Presidente da comissão de direito autoral da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o advogado Sidney Sanches, explicou que a paródia é prevista pela lei brasileira, uma vez que assegura a liberdade de expressão e o humor no debate público. Portanto, a paródia não exige autorização do autor neste casos. Entretanto, para o advogado, a versão do Tiririca tem o objetivo de “capitalização de um interesse pessoal”, e não o que expressa a lei.

Vale notar que a decisão do STJ não é definitiva, e foi válida apenas sobre o caso de “O portão”, explicou o advogado. “Mas lógico que, tratando-se de quem é, e o precedente que foi, que vai impactar. É um sinal negativo nas eleições para os compositores.”

Para evitar casos semelhantes , o STJ deveria emitir uma resposta ao embargo apresentado pela defesa de Roberto Carlos, o que para Sidney é improvável de acontecer antes do pleito de 2020.

Em tempos em que os resultados das eleições são impactados pelas redes sociais, Sidney alerta sobre o uso de músicas e paródias não autorizadas em campanhas pela internet. Redes socias e YouTube podem derrubar este tipo de conteúdo.

“O YouTube pode tirar do ar, seguindo suas políticas. E essa proibição não necessariamente vai se repetir na propaganda de TV e rádio ou no carro de som na rua. Isso é uma preocupação”, finaliza o advogado.

 

Foto: Reprodução/YouTube