Review: Como o Bandcamp ajudou artistas e se popularizou em tempos de Covid-19

Matéria de Los Angeles Times

Considerado um anti-Spotify, o Bandcamp se tornou um grande alívio para muitos artistas durante a pandemia. Conheça a plataforma que visa ser mais transparente e remunerar artistas de forma justa.

Nesta semana, o ‘Los Angeles Times’ publicou uma matéria sobre o Bandcamp, uma plataforma voltada para ajudar a artistas a divulgar e vender sua música de forma independente.

Apesar de não ser popular ainda aqui no Brasil, e ainda sim, já haver alguns artistas brasileiros se aventurando por lá, o Bandcamp ganhou destaque ao redor do mundo durante a pandemia do novo coronavírus, pois seu modelo de negócios proporciona uma remuneração mais transparente que as plataformas populares voltadas para a música.

Ao contar sobre a criação de sua plataforma, o co-fundador e atual presidente-executivo, Ethan Diamon (49), sempre relata o que o levou a criar o Bandcamp em 2008: “Se eu amo uma música, como posso pagar o artista? Como faço isso, e crio esse relacionamento com ele?”. Essas questões se tornaram um mantra e são citados em suas entrevistas com frequência: “Nosso sucesso está vinculado ao sucesso do artista. Só ganhamos dinheiro se o artista ganhar muito mais.”

Este posicionamento acaba se refletindo em suas ações. Tanto que em março deste ano o Bandcamp anunciou que uma vez por mês, até o final de 2020, está abrindo mão de sua comissão de 15% nas vendas digitais (e 10% nas vendas físicas). O objetivo é direcionar 100% do dinheiro arrecadado dos fãs para o artista.

De acordo com uma contagem exibida na página do Bandcamp, a plataforma gerou US$584 milhões para artistas desde a sua criação.

Na pandemia, muitos artistas buscaram o Bandcamp para compensar a falta de renda gerada pelas apresentações em shows. Mark Mulligan, da Midia Research, não poderia explicar melhor o diferencial da plataforma.

“Antes da pandemia, um artista podia não ganhar muito dinheiro com os streams, mas estar nas plataformas de streaming poderia atingir centenas de potenciais compradores de ingressos para shows[…]. Anteriormente, quanto mais pessoas ouvissem sua música, mais gente nos shows e mais gente comprando mercadorias, e todo mundo ficava feliz. Tire a vida da equação e, de repente, nada faz sentido”, explicou Mulligan.

O Bandcamp sempre foi em contramão às plataformas de streaming. A medida que a pandemia avançava pelo mundo, cada vez mais artistas começavam a vender seus trabalhos   (cds, dvd’s, singles) e anunciar com a ajuda das redes sociais. Assim, os fãs sensibilizados começaram a se envolver na esperança de ajudá-los.

De acordo com o portal, cerca de 40% desses fãs mais conscientizados sobre as dificuldades de seus artistas favoritos durante a pandemia, tendiam a pagar mais do que o preço pedido na finalização da compra.

Segundo o Bandcamp, que atualmente conta com 76 funcionários, já em 2019, os fãs usaram a plataforma para comprar 5 milhões de álbuns digitais, 2 milhões de faixas, 1 milhão de álbuns de vinil, 600 mil CDs, 300 mil cassetes e 250 mil camisetas. Nos últimos 30 dias agosto, as vendas ano a ano aumentaram 122%.

Enquanto Spotify, Apple Music e Tidal enfatizam as faixas e álbuns mais populares, por meio de paradas e listas de reprodução, as paradas do Bandcamp são mais “difusas”. Justamente igualitário, o foco do site há muito tempo é a descoberta, e não a competição. “Isso é intencional”, diz Diamond ao portal.

Em vez dos tradicionais rankings de músicas mais tocadas, o Bandcamp incentiva os ouvintes a navegar, não pela popularidade do artista ou pelas playlists, mas de acordo com a escolha de um subgênero, formato, fã, localidade ou alguma combinação dos mesmos. Esse modelo vai em contramão até do Soundcloud, que gerou seu próprio subgênero de rap. No Bandcamp não há um estilo popular.

As músicas não se tornam virais na plataforma. Em vez disso, os compradores trocam dicas, compartilham compras nas redes sociais, ou compram exclusividades quando os artistas enviam um “alerta Bandcamp”.

“Tenho milhares de seguidores do Bandcamp e as pessoas adoram as raridades”, diz o aclamado cantor, compositor e guitarrista de indie rock Shamir Bailey: “Eu sinto que se você é um seguidor do Bandcamp, você é um nerd da música”. Desde o início da pandemia, o artista tem lançado canções e demos inéditas nas ‘Bandcamp Fridays’.

Shamir diz ao portal que alguns dias depois dessas sextas-feiras de lançamento, ele consegue um retorno de US$1.500. Ou seja, as vendas do Bandcamp, de uma única música, em apenas um dia, são equivalentes a um mês para ele com plays no Spotify.

Diamond disse que adora esses cases e é por isso que ele está “ciente do importante papel que o Bandcamp desempenha na subsistência de muitos músicos, e essa é uma responsabilidade que levamos muito a sério”.

O Bandcamp atraiu tanta atenção, que seu sucesso atrai olhares de investidores. Questionado se ele e o pequeno grupo de proprietários considerariam uma venda ou parceria, ele se torna diplomático. “Nós consideraríamos apenas parcerias com empresas que acreditamos servirem os artistas em primeiro lugar, como temos feito nos últimos 11 anos.”

 

Foto: Bandcamp

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Review: Criador de Bandcamp se posiciona e diz que “Música é arte, e não conteúdo”

Matéria de Estadão

Em entrevista, Ethan Diamond, criador do Bandcamp se posicionou contra aqueles que tratam a música como uma commodity, feita apenas para vender planos de assinatura. Para ele, sua plataforma sempre vai focar no que é justo para os artistas.

Na última semana, o Estadão entrevistou Ethan Diamond, o criador do Bandcamp, uma das plataformas de compartilhamento de arquivos que mais cresceu durante a pandemia do coronavírus. Isso porque, seu modelo permitiu que fãs pudessem ajudar seus artistas favoritos.

Criada em 2007, é uma resistente em comparação à outros serviços semelhantes que acabaram desaparecendo com os serviços de streaming. Na pandemia, o Bandcamp está sendo uma grande oportunidade para pequenos artistas, chegando a crescer 70% no período de quarentena.

Durante a entrevista, Ethan Diamond, manteve seu posicionamento de que o Bandcamp é uma plataforma dedicada à, de fato, ajudar artistas, em contramão aos tradicionais serviços de streaming, como Spotify e Apple Music, que almejam sobre tudo lucro. Para ele, música não é uma commodity ou conteúdo feita para ser vendida a troco de assinaturas:

“Música é arte, não é conteúdo. Qualquer um que cria música sente a mesma coisa – ela acontece quando tem que acontecer. Quando alguém cria essa arte, ela está nos confiando algo que é quase sagrado. Eu acho importante que isso esteja nas mãos do artista e não de uma plataforma. É triste que a música seja tratada como uma commodity para vender hardware ou assinaturas. Não é isso o que fazemos”, afirmou Diamond.

É por este motivo que é difícil ver artistas de grandes gravadoras (as majos) na plataforma. Para o criador do Bandcamp, apesar de haver negociação com as majors, este não é o objetivo da plataforma:

“Ter esses artistas exige acordos que colocam limites em como você oferece a música. Licenciar a música das majors tem muitos desafios. E sempre soubemos que queríamos garantir que a plataforma fosse para os artistas. Pensamos em crescer e demonstrar nosso valor para gente cada vez maior. Estamos começando a ver isso, mas temos que ser transparentes e justos. Não podemos mudar nossos termos“, explicou Diamond ao portal.

“Creio que nos próximos anos veremos mais música das ‘majors’ no Bandcamp. Mas a ideia nunca foi construir um sistema que tenha toda a música do mundo. Já existem muitos lugares que fazem isso. É mais importante criar um sistema no qual os artistas são tratados justamente. A parte mais interessante da música não é criada pelas majors. Eu estou de boa. Prefiro isso do que perder o controle da companhia apenas para ter mais música”, completou o criador da plataforma.

Para o futuro, Diamond quer mais para os artistas, principalmente para os independentes: “Sempre queremos encontrar maneiras para os fãs apoiarem os artistas. O melhor agora é ter ferramentas para serem usadas fora do ciclo de um álbum. Um artista vai lançar apenas um álbum a cada poucos anos, mas isso não muda o fato de que há fãs que querem apoiá-los, especialmente quando não há turnês. A gente tinha um programa piloto de prensagem de discos de vinil nos EUA. Vamos expandi-lo para mais artistas nos próximos meses“.

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O preço, custo e valor da música digital

Matéria de DownBeat Magazine

Diante de um modelo de streaming pouco sustentável, artistas tem ganhado liberdade com a ajuda de sites como Bandcamp e planos de assinatura fazendo de seus fãs grandes parceiros.

O portal Downbeat trouxe algumas histórias de artistas que perceberam esse novo modelo de distribuição de música pouco sustentável, e descobriram outros meios para divulgar sua música, como o modelo de planos de assinaturas e o site Bandcamp – plataforma para artistas independentes conseguirem divulgar e vender a sua música autonomamente.

William Brittelle viu nesses sites de compartilhamento e planos de assinatura um meio de ajudar outros artistas a serem ouvidos. Brittelle é co-fundador e também um artista da New Amsterdam Records, uma gravadora sem fins lucrativos especializada em trabalhos de compositores e artistas com gêneros musicais diversificados.

“Precisamos tentar ajudar nosso público a entender que o principal ciclo de geração de receita de um projeto precisa ser no período que antecede o lançamento, e não após o lançamento”, disse Brittelle.

Gravadoras independentes como a New Amsterdam estão experimentando algo como um “modelo de clientelismo”, através de serviços de assinatura: US$75 para downloads digitais de novos lançamentos do selo, lançamentos do catálogo anterior, além de gravações exclusivas para assinantes, durante um ano.

“Os custos que nossos artistas incorrem – o custo de produção, o custo de comissão – tudo é adiantado. É aí que eles precisam de ajuda, e não há renda suficiente orientada pelo mestre do outro lado para compensar isso. É aí que entra o patrocínio”, explicou Britelle.

New Amsterdam, como outras marcas iniciantes e muitos músicos criativos, está apostando em um público diferenciado. O trompetista e compositor Dave Douglas também adotou o modelo de assinatura, assim como a plataforma Bandcamp. Douglas fundou a Greenleaf em 2006, após concluir seu contrato com a RCA, durante um período perigoso para a indústria da música.

“Todo mundo dizia: ‘Ah, a indústria está morrendo agora e você acabou de começar sua gravadora'”, lembrou Douglas. “Para mim, parecia mais um momento de oportunidade para artistas.”

Com a Greenleaf lançou, Douglas ajudou outros artistas e também conquistou a liberdade para si. Em dezembro de 2006, a independência (e distribuição online) lhe ofereceu a chance de disponibilizar todos os sets que seu quinteto de longa data tocou durante uma semana no Jazz Standard, mais de 12 horas de música.

“Meu quinteto estava tocando 50 músicas que eu escrevi ao longo dos anos; a maioria tocou apenas uma vez no decorrer da semana. Depois da primeira noite, eu cheguei em casa e fiquei tipo: ‘Eu não acho que posso fazer isso, é uma péssima idéia’, mas eu levantei no dia seguinte e as pessoas ao redor do mundo já começaram a baixá-lo.”, contou Douglas.

São 100 dólares para fazer o streaming ou o download de todas as 79 faixas de Douglas, via Bandcamp. Porém, com o plano de assinaturas de 75 dólares, o fã poderá  fazer o mesmo download, além de mais de 60 lançamentos. Assim, com seu modelo de assinatura, Douglas conquistou mais que fãs: parceiros.

 

Foto: Ingrid Laubrock, instrumentista, aproveitando a liberdade que conquistou com o apoio de seus fãs em seu site.

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