Matéria de the Guardian

Em entrevista para o The Guardian, Emicida fala sobre documentário e sua missão de resgatar a história negra no Brasil, país que está indo “por um caminho perigoso”.

Nesta segunda-feira (18) o The Guardian publicou uma matéria com o rapper Emicida, que vem ganhado cada vez mais destaque, principalmente, após o lançamento de seu documentário na Netflix, AmarElo.

Para o portal, o rapper falou como percebeu que poderia ter o papel de repassar a história da cultura negra no Brasil. Coisa que pouco se vê, principalmente no período escolar:

“Se tivéssemos nos contado sobre essa história e essas contribuições [negras] na escola, teríamos um senso radicalmente diferente de quem somos – e isso teria produzido uma sociedade muito melhor do que a que temos hoje” contou o rapper ao The Guardian.

O artista faz música há mais de uma década, possui três álbuns lançados e vem construindo uma reputação como um dos melhores MCs de hip-hop do Brasil. Lançado em dezembro, seu documentário recebeu ótimas críticas por mostrar a luta de décadas contra a violência racista e a desigualdade, em um país que ainda tem um legado marcado pela escravidão.

O rapper relatou que em 2015 durante sua primeira viagem à África, no museu nacional da escravidão de Angola, visitou uma capela à beira-mar do século 17, onde viu uma fonte no qual escravos africanos eram “convencidos de que não tinham alma” e eram batizados antes de embarcarem em navios com destino a países como o Brasil, então o maior importador de escravos do mundo.

“Eu me perguntei sobre os momentos da minha vida em que senti que também não tinha alma; como passei boa parte da minha vida suspenso nesta escuridão onde me sentia não digno de ser considerado inteligente, ou forte, ou importante, ou bonito, ou qualquer um desses atributos positivos que fazem parte da experiência humana”, disse ele durante entrevista em sua casa na zona norte de São Paulo.

“A ideia de que esses corpos [negros] ainda não têm alma ainda está muito viva na consciência de muitas pessoas”, afirmou o rapper, apontando para a violência policial implacável e o impacto desproporcional de Covid-19 sobre os pobres brasileiros negros. Ele chamou o Brasil de “um país onde a vida dos negros importa menos”.

Emicida também falou sobre seu receio de haver um grande retrocesso após a eleição de Jair Bolsonaro, em 2018. Segundo ele, um presidente pró-armas no Brasil – a quem ele chamou de “verme” – poderia ser o primeiro capítulo de um retrocesso dos direitos civis duramente disputados.

A política brasileira “caminhava por um caminho muito perigoso”, alertou o rapper ao portal. “A meu ver, se não tivermos cuidado, há uma grande chance de alguém como o Bolsonaro ser apenas a ponta do iceberg – e temos que conversar sobre isso.”

Emicida afirmou ainda que a hostilidade de Bolsonaro à cultura foi impulsionada por seu desejo de limitar este tipo de debate livre e baseado em fatos que o exporia como uma fraude:

“Ele sabe que a cultura cria um espaço para reflexão – e alguém que se alimenta do caos obviamente vai sentir ódio completo por qualquer coisa que crie esse tipo de espaço. Porque se você tivesse um debate saudável, alguém como ele nunca ocuparia o cargo que ocupa.”, continuou.

Foto: Wendy Andrade

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