Matéria de O Globo

Quem vê a Ala dos Compositores no desfile das escolas de samba no Carnaval, muitas vezes desconhece o processo de composição de um samba-enredo, que exige além de muito talento, investimentos que chegam a 100 mil. O GLOBO publicou uma matéria Contando os desafios no processo de escolha de um samba-enredo que precisa ser reavaliado pelas escolas.

O Globo publicou uma matéria sobre o processo de escolha dos sambas-enredo nas escolas de samba do Carnaval. São várias etapas e muito investimento por parte dos compositores.

O processo que escolhia o melhor samba para o desfile da escola mudou.  Antigamente, havia uma grande disputa entre os compositores que eram exclusivos de uma escola. Agora, um compositor pode ser autor de vários sambas-enredo em escolas diferentes.

“Hoje em dia, os finalistas nas disputas das escolas A, B, C e D são mais ou menos os mesmos. Não existe mais aquele pessoal que compõe exclusivamente um samba por ano, para uma escola. Quando eu cheguei à Portela, há 30 anos, nomes como Noca, Luiz Ayrão e Davi Corrêa estavam na disputa, um contra o outro. Agora, cada escola tem apenas um grande compositor, em média”, afirmou Cláudio Russo, coautor dos sambas do Paraíso do Tuiuti e da Grande Rio que já estão no CD das escolas de samba do Grupo Especial 2019.

“Você vai a um dia de desfiles do Grupo Especial e corre o disco de ouvir quatro ou cinco sambas do mesmo autor […], mas o nome nem sempre aparece”, contou Elymar Santos, se referindo a regra de que um compositor só pode assinar no máximo dois sambas.

O número de autores para o mesmo samba-enredo também mudou. Russo contou ao Globo que a mudança ocorreu pelos altos valores cobrados pelas escolas. Os compositores se uniram nos chamados “escritórios” e compõem para várias escolas.

“Dois caras são os investidores, outros dois fazem a produção, um arregimenta torcedores e aluga um ônibus…” — contou compositor não revelado ao Globo: “Uns dois ou três são realmente os compositores do samba”.

O Globo citou o exemplo da Beija-Flor, que para 2019 escolheu a fusão de dois sambas, reunindo doze autores no total. O repasse, segundo um compositor que não se identificou, ficaria da seguinte forma:

“O direito de arena e demais fontes pagam uns R$250 mil por samba […]. Tem escola que fica com metade desse dinheiro, outras pegam 30% ou 40%. Então, seriam uns R$ 125 mil para dividir entre os 12, ou seja, cerca de R$ 10 mil pra cada um. Depois de pagar toda a despesa, sobra um troco”.

Para as escolas de samba, a escolha do samba-enredo gera muitos eventos e receitas, entretanto para os compositores, cada vez mais despesas. De acordo com o jornal, uma disputa em escolas como Mangueira, Portela ou Salgueiro, exige um investimento de R$100 mil no samba para que ele passe por todas as etapas até ser escolhido.

“Isso precisa ser revisto’, disse Dudu Nobre: “A disputa não pode ser mais tão longa. A cada noite a parceria gasta R$ 10 ou 20 mil.”

A origem desses recursos também é alarmante: “Tem escritório bancado por miliciano, traficante, dono de “maquininha” (caça-níqueis ) […] “É uma grande lavagem de dinheiro”, contou um sambista ao Globo.

“O bom compositor deveria ter o direito de inscrever samba em todas as escolas”, defendeu a pesquisadora e escritora Rachel Valença, especialista em carnaval: “Eu sempre fui defensora das alas específicas para as escolas, mas me toquei de que elas não existem mais naqueles moldes. Hoje, você paga pela roupa e desfila de compositor em praticamente qualquer escola. Sai uns R$ 600”.

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