Faz poucos meses eu tive a minha primeira experiência real de inteligência artificial. Trocando mensagens em inglês com um amigo americano, a eficiência da sugestão de palavras do meu telefone era absolutamente mágica.

A sensação era realmente que o aparelho lia minha mente e me ajudava, não apenas sugerindo as palavras certas, como sinônimos e outras tangentes para a conversa.  Uma troca de mensagens de texto comigo é normalmente um diálogo irritantemente lento pela minha incompetência na digitação, mas a minha conversa em inglês com meu amigo aconteceu num ritmo próximo ao da fala.

Foi uma experiência reveladora. A surpresa foi a brutal diferença entre a eficiência da predição de palavras em português e inglês.

Aí é que entra a tal inteligência artificial, capaz de aprender com os usuários. Como há muito mais gente digitando em inglês no IPhone do que em qualquer outra língua, o programa de predição de palavras no idioma de Shakespeare é muitíssimo mais inteligente do que a sugestão de vocábulos na última flor do Lácio.

Após o fim da conversa, dois pensamentos me ocorreram. O primeiro, óbvio e muito perturbador, foi a constatação que a inteligência artificial estará presente em cada vez mais atividades nos próximos anos e é impossível prever quais os seus impactos nas nossas vidas.

O segundo pensamento foi que antes da inteligência artificial fazer as suas mágicas, seremos por muitos anos as cobaias de uma infinidade de experimentos de burrice artificial. Lembremos que antes da extraordinária ajuda que podemos receber hoje do programa de sugestão de palavras, fomos perturbados durante anos pela estupidez dos corretores ortográficos.

Uma abordagem errada, como tentar adivinhar as palavras ao serem digitadas, ao invés de sugerir palavras para a escolha do usuário, pode transformar a maravilha da inteligência artificial na irritação da burrice automática.

No nosso mundinho da música, os serviços de streaming usam cada vez mais recursos de inteligência artificial na curadoria de sugestões e playlists personalizados. Se não chegam a irritar tanto quanto a estupidez dos corretores ortográficos adivinhões, eles certamente ainda têm muito o que aprender antes de fazer um uso inteligente dos acervos de música que dispõe.

A lição da experiência das mensagens de texto me parece clara: usar a inteligência dos usuários é que faz os programas ficarem inteligentes.

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